É tempo de colher o que outrora plantámos

Em setembro, entrámos pé ante pé, com medos, mas de coração aberto para novas conquistas. Plantámos abraços, corridas no parque, construções de legos gigantes…

Outubro surgiu num ápice e, de repente, alguns já caminhavam, outros gatinhavam. Uns já iam à sanita, outros largavam as fraldas. Uns corriam e saltavam a pés juntos, outros recontavam histórias. Uns dormiam a sesta toda, outros experimentavam dormir sem chupeta. Uns aprenderam as letras, outros a fazer contas difíceis…

Esta metáfora tão simples passou à ação e decorridos precisamente 50 dias de dedicarmos o nosso tempo a plantar, chegou a hora de colher. Colher o que outrora plantámos!

Numa semana calorosa, ao sabor do tão desejado verão de São Martinho, havia chegado o momento de parar, olhar em volta e partilhar as nossas conquistas.

Marcámos esta semana com idas à nossa horta pedagógica para colhermos o que fomos vendo crescer. Pois, se bem se lembram, no dia 22 de setembro, plantámos alfaces e daí em diante foram tempos em que fomos presenteados com a força da natureza, vendo-as crescer. Por cá, educam-se crianças, adultos e comunidades. Por cá, educa-se no mundo e no tempo. O tempo que é de todos e de ninguém, o tempo de cada um.

 

- A tua Educadora não te ensinou a andar em fila?
- Não. A minha Educadora ensinou-me a ser autónomo.
- A tua Educadora não te ensinou que as árvores são verdes e os telhados vermelhos?
- Não. A minha Educadora ensinou-me que na vida tudo tem a cor que nós lhe queremos dar.
- A tua Educadora não te ensinou a estar sentado com as costas direitas e os pés para baixo?
- Não. A minha Educadora ensinou-me a estar numa posição em que me sinta confortável.
- A tua Educadora não te ensinou a estar calado?
- Não. A minha Educadora ensinou-me que devo dizer sempre aquilo que penso.
- Mas, afinal, o que mais te ensinou a tua Educadora?
- A minha Educadora ensinou-me a dar a mão ao amigo que se sente só; a dar um beijo e a abraçar quem está magoado; a respirar fundo quando me sinto agitado; a partilhar aquele brinquedo que gosto muito; a sujar-me na terra à procura de minhocas; a construir arte com materiais de desperdício que comummente são colocados no lixo; a sentir a música; a devorar histórias; a pintar o meu mundo com todas as cores e a brincar.
- Só isso?
- Só. Ela não tem tempo para mais. O resto do tempo dela é para aprender comigo.
 
                                         (Breves considerações de uma Educadora)